sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Iemanjá Gospel

Depois de engatinhar na fé e se afogar na Lagoinha, a pastora das botas de couro de Pyton fará um novo ato profético-humoristico. Ana Paula Valadão realizará um Cruzeiro, com direito a muita mandinga gospel nas praias do litoral Brasileiro. Em lugar do Exu Boiadeiro, a moça pretende reunir alguns irmãozinhos abastados em um navio, e assim amarrar o Poseydon Tupiniquim, usando uma forte dose de boacumba "evangé-wicca".

Segundo relato em seu blog, a moça à princípio se sentiu incômoda em realizar um evento que só abarca os ricos, marginalizando os demais, mas uma experiência mística a fez mudar de opinião. Em um momento de oração, o Senhor lhe teria dito: “Seus bobinhos! Seus bobinhos! Unjam os mares! As praias são minhas! As praias são minhas!”. Neste momento, Deus lhe teria dado uma nova missão: Ungir as praias brasileiras! :0

"Naquela atmosfera de glória, da forte Presença do Senhor, mais um passo me foi revelado. Eu nos vi ungindo os mares do Brasil e descendo em todas as praias possíveis, por todo o litoral brasileiro, adorando ao Senhor", diz Ana, ansiosa para derramar óleo de soja nas praias da ilha de Vera Cruz. Sem dúvida será uma experiência edificante participar deste cruzeiro, recheado de atos proféticos e muita galhofa neopentecostal. O preço da brincadeira? Balela! Nada paga a satisfação de fazer a "obra de Deus" ao lado do seu ídolo preferido, untando as águas já poluídas do litoral do nosso país.

Para justificar seu descalabro, a pastora usa as Escrituras: "A Bíblia até mesmo nos instrui a ungir os doentes para que sejam curados. Com esse entendimento, ungiremos os mares e as praias do Brasil". Karaca! A bíblia diz que devemos ungir os doentes... logo, nós ungiremos os mares??? Pelo visto nao é só a teologia da Lagoinha que anda fraca, mas a capacidade de raciocínio lógico anda bem capenga.

"Compartilhando isso, sei que me exponho a críticas e a um mal entendimento do que move o meu coração", diz Ana, consciente de que esta empreitada redundará em censura do seu ministério. No entanto, ela não pensa em desistir, pois dito cruzeiro constitui um passo deveras importante: Ele contribuirá parta a "redençao do país".

Como diria o nosso mano Capitão Nascimento: Essa Ana é mesmo uma Fanfarrona!


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Postou Leonardo Gonçalves, cansado de tanta paspalhice gospel, no Púlpito Cristão

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Calem a boca, nordestinos!

O que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: "Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!".

Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos "amigos" Houaiss e Aurélio) do nosso país.
E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!

Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!

Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?

Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?

Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos... pasmem... PAULISTAS!!!

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, Bruno Garcia, Virgínia Canvendish, Tuca Andrada, todos pernambucanos.

Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura...

Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner...

E Não poderia deixar de lembrar também da genialidade baiana de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethania e da família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia...

Ah! Nordestinos...

Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?

Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.

Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!

Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!

Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário... coisa da melhor qualidade!

Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso... mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!

Minha mensagem então é essa: - Calem a boca, nordestinos!

Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.

Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.

Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”

Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!


Fonte: Autor José Barbosa Junior / Crer é Pensar

quinta-feira, 17 de junho de 2010

terça-feira, 30 de março de 2010

Ter irmão é bom demais!

Seja biológico, adotivo, gêmeo ou até aquele amigo que vira um irmãozão, não importa. O que vale é incentivar a cumplicidade.

Você mal-acabou de dar aquela bronca e fazer um discurso interminável dizendo que irmãos não devem ficar brigando e seus olhos já registram uma cena que seria improvável dois minutos atrás: eles estão gargalhando, brincando com os carrinhos antes alvos da disputa como se nada nunca tivesse acontecido.

Por muitos anos, você vai se deparar com seus filhos correndo pela casa, disputando sua atenção, a última bolacha do pacote e até o controle remoto da televisão. Vai ser duro ver as discussões, ouvir os gritos, apartar as brigas, mas a recompensa virá quando você chegar em casa e encontrá-los brincando juntos ou ao perceber aquele olhar de cumplicidade entre eles quando fazem algo que não deveriam.

Se ter um irmão é um ensaio para a vida, é natural que haja altos e baixos.
E há também espaço para uma variedade de sentimentos.

A convivência é uma oportunidade para errar, testar o limite do outro, aprender. Aprender a ter paciência, a admirar, a se frustrar e a amar. Esse, aliás, é o desejo de todos os pais em relação a seus filhos. É muito bom ver o mais velho ensinando o caçula a construir um castelo na areia, ouvir a turma dando aquela gargalhada em plena brincadeira, ou sentir, numa situação difícil para um, que o outro tem compaixão. E ver o quanto gostam de estar juntos. Essa companhia tem muita função.

Uma pesquisa da Universidade de Illinois, Estados Unidos, mostrou recentemente que a influência dos irmãos é tão importante quanto a dos pais, cada uma em um aspecto diferente. Segundo os cientistas, é com os irmãos que a criança tem mais chances de aprender a se socializar e enfrentar o mundo, enquanto os pais ficam com a tarefa de transmitir valores. Ou seja: no cotidiano, eles prestam atenção no que o outro está fazendo, na experiência vivida, no exemplo a ser seguido. Cabe aos pais a orientação mais ampla, a direção dos caminhos, formar caráter. E com o irmão, por exemplo, ele aprende a encarar melhor os primeiros dias na escola, a andar de bicicleta, a desenhar um cachorro “daquele” jeito... E não importa a ordem de nascimento: caçula, do meio ou primogênito, todos aprendem uns com os outros.

No amor que nos torna irmãos,
Lamartine Santana

**Texto enviado pela minha irmã Mércia Barbosa de Santana Lira por e-mail

terça-feira, 9 de março de 2010

Deus governa o mundo

Uma noite, quando um embaixador e seu assistente foram obrigados a dormir no mesmo quarto em um hotel, o assistente observou seu chefe se virar na cama, sem conseguir dormir.

- Senhor, o que o incomoda?, ele perguntou.

- Oh, eu tenho tantas coisas em minha mente. O peso da minha responsabilidade é difícil de suportar.

- Perdoe-me, senhor, mas o senhor acredita que Deus governou o mundo até agora?

- Claro.

- E o senhor acredita que ele vai governá-lo mesmo depois que o senhor deixar esta vida?

- Sem dúvida.

- Então, por que o Senhor não confia que Ele pode fazer o mesmo durante a sua vida?

Ouvindo isto, o embaixador aquietou-se e logo estava dormindo.

No amor que nos torna irmãos,

Lamartine Santana

terça-feira, 2 de março de 2010

REDE GLOBO - UMA EMISSORA QUE AFRONTA A DEUS

Dias atrás eu conversava com minha esposa sobre a programação da Rede Globo, do padrão de qualidade, da audiência, do investimento gigantesco em publicidade e das inúmeras repetidoras espalhadas no Brasil e no mundo.

Acontece que a Globo, com todo esse poder de penetração na sociedade e dentro de nossas casas, vem introduzindo, silenciosamente, uma cultura de libertinagem, traição, adultério e rompimento com a célula familiar de forma sutil.

Com o advento do BBB10 a Globo conseguiu o que ela vinha tentando há muito tempo, o beijo gay ao vivo. Em duas cenas do BBB 10 aconteceram dois beijos Gay e quando um deles foi "líder" a produção do programa teve o cuidado de colocar sobre uma estante a foto do beijo, com isso a Globo faz com que seus fiéis telespectadores vejam o beijo gay como algo comum e engraçado, ou seja, aceitável.

Agora, nas novelas globais o beijo gay vai acontecer, induzindo esse comportamento aos jovens e adolescentes, induzindo legisladores a criarem leis que abonem tal comportamento.

No mesmo BBB 10 uma das participantes declarou-se lésbica e com essa declaração todas as demais mulheres do programa se aproximaram dela sendo protagonizado o selinho lésbico no programa e todos os demais a apoiaram sob o manto sagrado do não preconceito.

Já novela Viver a Vida o tema principal mostrado de forma engraçada e aceitável é a da traição e do adultério. A Globo leva ao telespectador ao absurdo de torcer para que um irmão traia o outro ficando com sua namorada. A traição nessa novela é a mola mestra da máquina, todos os personagens se traem, e isso é mostrado de forma comum, simples, corriqueiro.

Mas talvez, a investida mais evidente e absurda esta na novela das 6h, Cama de Gato. A Globo superou todos os limites nessa novela ao colocar como tema uma música do grupo Titãs. Na música, nenhuma linha de sua letra se consegue tirar algo de poético, de aconselhável pra vida ou de apoio. A letra da música faz menção descarada do Inimigo de nossas almas que deseja entrar em nossa casa (coração) e destruir tudo, tirarem tudo do lugar (destruir a célula familiar e nossa fé). A música chega ao absurdo de dizer que devemos voltar à mesma prisão, a mesma vida de morte que vivíamos.

Amados amigos, fica o alerta, às vezes nem nos damos conta do real propósito de uma novela, de um programa, de uma música, e como Jesus esta às portas, as coisas do mal estão cada vez mais evidentes e claras. Até os incrédulos estão percebendo que algo esta errado.

Aproveito para trazer ao conhecimento a letra dessa música, cuidadosamente escolhida pela Globo para servir de tema da dita novela; música de abertura da novela.

Vamos deixar que entrem Que invadam o seu lar
Pedir que quebrem Que acabem com seu bem-estar
Vamos pedir que quebrem O que eu construí pra mim
Que joguem lixo Que destruam o meu jardim

Eu quero o mesmo inferno A mesma cela de prisão - a falta de futuro
Eu quero a mesma humilhação - a falta de futuro

Vamos deixar que entrem Que invadam o meu quintal
Que sujem a casa E rasguem as roupas no varal
Vamos pedir que quebrem Sua sala de jantar
Que quebrem os móveis E queimem tudo o que restar

Eu quero o mesmo inferno A mesma cela de prisão - a falta de futuro
Eu quero a mesma humilhação - a falta de futuro
Eu quero o mesmo inferno A mesma cela de prisão - a falta de futuro O mesmo desespero

Vamos deixar que entrem Como uma interrogação
Até os inocentes Aqui já não tem perdão
Vamos pedir que quebrem Destruir qualquer certeza
Até o que é mesmo belo Aqui já não tem beleza
Vamos deixar que entrem E fiquem com o que você tem
Até o que é de todos Já não é de ninguém
Pedir que quebrem Mendigar pelas esquinas
Até o que é novo Já esta em ruinas
Vamos deixar que entrem Nada é como você pensa
Pedir que sentem Aos que entraram sem licença
Pedir que quebrem Que derrubem o meu muro
Atrás de tantas cercas Quem é que pode estar seguro?

Eu quero o mesmo inferno A mesma cela de prisão - a falta de futuro
Eu quero a mesma humilhação - a falta de futuro
Eu quero o mesmo inferno A mesma cela de prisão - a falta de futuro O mesmo desespero


Imaginem nossas crianças cantando isso? Trazendo isso pra dentro do coração e da alma dela? Tente imaginar de onde o compositor dessa pérola tirou inspiração para compor tamanha afronta? A palavra de Deus é clara quando diz; quem esta de pé, veja que não caia. E ainda; examinai todas as coisas, retende o que é bom.

Aí pergunto, parafraseando a própria Bíblia; pode porventura vir alguma coisa boa da Rede Globo?


*** Texto recebido por e-mail, pelo qual assino embaixo!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃO

Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.

Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.

– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.

E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.

– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!

A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.

Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:

– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.

Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa.

Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...

Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa.. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, t ambém ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.

O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:

– Vamos marcar uma saída!... – ninguém quer entrar mais.

Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.
Casas trancadas.. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite...

Que saudade do compadre e da comadre!



José Antônio Oliveira de Resende
Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João Del-Rei.